ROCK BRASILEIRO

21/08/2008 21:28

O Brasil tem uma rica tradição no rock, que remonta ao final da década de 1950, quando esse gênero musical era identificado com a rebeldia sem causa da juventude transviada, que, como dizia a velha canção imortalizada na voz de Raul Seixas, entrava “na rua Augusta a 120 por hora”. Pontificavam nessa geração Roni Cord, Sérgio Murilo, Tony Campelo e, principalmente, Cely Campelo, cuja imagem ficou gravada na memória de várias gerações com canções como Broto legal e, acima de tudo, Estúpido cupido.

Posteriormente veio a Jovem Guarda, que, em seus primórdios, no início da década de 1960, traduziu para o Brasil o espírito iê-iê-iê dos Beatles, na qual reinavam absolutos os parceiros Roberto e Erasmo Carlos, que, com canções como Calhambeque e Splish splash, dominaram a cena pop durante mais de uma década. Pertenciam a essa geração Wanderléa, Trio Ternura, Jerry Adriani e muitos outros. Como aconteceu com as gerações que a antecederam e a sucederam, a Jovem Guarda desembocou também no rico mar da MPB.

Vieram depois os Mutantes de Arnaldo Baptista e Rita Lee, que encarnavam o espírito hippie do flower power. Na década de 1970, o rock progressivo deu origem a grandes bandas, que, apesar da incontestável qualidade do trabalho, não conseguiram chegar ao grande público. Esse foi o caso de grupos como O Terço, A Bolha e Vímana (do qual faziam parte Lobão, Ritchie e Lulu Santos, que mais tarde iriam se lançar em destacadas carreiras solo).

Veio a década de 1980 e, com ela, a explosão do rock nacional. O primeiro grande estouro foi a Blitz, da qual faziam parte Evandro Mesquita e Fernanda Abreu e que ganhou o Brasil com canções leves e dançantes como Você não soube me amar e Quero passar um weekend com você. Mais do que nunca, o Rio de Janeiro ditava a moda para o país, atraindo para a cidade uma série de bandas, todas querendo tocar suas fitas demo na hoje extinta Rádio Fluminense FM (auto-intitulada “A maldita”) e se apresentar no Circo Voador ou em eventos como o Rock in Rio, organizado pela primeira vez em janeiro de 1985 pela agência de propaganda Artplan.

O Barão Vermelho cantava Pro dia nascer feliz e o Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Fixação. Vieram de Brasília o dançante Paralamas do Sucesso (Vital e sua moto) e o vigoroso Legião Urbana (Será). Em São Paulo, o movimento punk produzia bandas como Plebe Rude e Ratos do Porão, mas foi da despretensiosa new wave que veio a banda mais identificada com a estética paulista: os Titãs.

O RPM de Paulo Ricardo lançou Rádio pirata e vendeu mais de 1 milhão de discos, mas a banda foi consumida pela fogueira das vaidades, sendo desfeita por causa do desentendimento entre seus integrantes. Também foi um fenômeno passageiro o irreverente Camisa de Vênus, liderado pelo cantor e compositor baiano Marcelo Nova, que foi um dos últimos parceiros de Raul Seixas.

Cazuza se desligou do Barão Vermelho e iniciou uma brilhante carreira solo, interrompida precocemente pela Aids em 1990, quando ele se aproximava da MPB (chegou a gravar o mangueirense Cartola). Essa geração chegou à década de 1990 demonstrando um certo cansaço e foi perdendo espaço na mídia. Os Paralamas do Sucesso, apesar de uma sólida carreira no mundo hispano, fizeram uma parada estratégica. O Barão Vermelho interrompeu o trabalho de composição e fez o disco Álbum, no qual visitou velhos sucessos de Rita Lee, Luís Melodia e Ângela Ro Ro, entre outros grandes nomes de um passado recente da MPB. A Aids também levou o cantor e compositor Renato Russo, provocando o fim do Legião Urbana depois do grande sucesso de Via Láctea (“Quando tudo está perdido/ sempre existe um caminho”).

Até os Titãs, cujas guitarras se tornaram cada vez mais pesadas desde Cabeça dinossauro, se renderam à nova realidade e, em meados da década de 1990, lançaram Unplugged, baseado no show que fizeram ao vivo no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. Mais uma vez, a força de gravidade da MPB conseguiu atrair para dentro do mesmo buraco negro os principais talentos da música brasileira. Assim como fizera com a bossa nova, a tropicália e até mesmo com os questionáveis sertanejos.[1]

 

 


[1]"Rock," Enciclopédia® Microsoft® Encarta. © 1993-1999 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados.